quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Para Rodolfo

Está sempre de olho
O preciso rapaz:
Tranquilo e sagaz
Em questões do avesso
Canhoto sem pressa
Junta os caquinhos
Gosta de um mistério
E vai com calma à conclusão
Olhos que sempre
Vêem bem
Além do posto
Recebe sinais das estrelas
E é amigo do vento
No rosto
Corado
Docemente abrutalhado
Pedaladas ao sol
Terça ou quinta
Ele é ímpar!
Vai e nunca dá tchau
Mas por aqui sempre fica:
Eu de olho nele de olho...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

HaiKeima

Ai! queimei os dedos!
Por pouco não cai na roupa
Este café quente

Hairkai

Eis que na velhice
Estou eu abandonado
Pelos fios brancos

HaiCai

Sim, caiu aqui
Um amarelo e docinho
Cajá do vizinho

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Leandro

Quem é este que se atreve a brincar com lousa e giz no azul do céu?
Quem é este que, no vácuo dos dias, é capaz de dar gritos ensurdecedores?
Este estrangeiro que nunca migrou, esse estranho observador?
Este que ama e ama tanto porque não sabe o que é amor?
Quem é este?
Eu não sei.
Creio que ele é demasiadamente belo para que seja visto. Afinal, são tempos difíceis para os sonhadores.
Mas se ele nasce e morre pelas beiradas porque é capaz de ler o mundo, alguém há de viver para lê-lo.

(10/09/2009)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um poema feito para um aniversário

Para Y...
Antes que desapareça.

Não celebro contigo teu nascimento
Não. Celebro antes, em mim, tua existência
E morada própria
De valor incompreensível em ti
Feito de instantes

Sob poeiras e caixas
Sei que tua música se esconde
Como um sussurro na cidade

E eu, toda ouvidos, aguardo
Um verso que seja
Dessa canção estranhamente silenciosa

...

Silêncio não é proteção
Verbo não é sermão
Toque não é carinho
Só podem ser...

Mudamos de lugar a cada ano
Para frente e para trás
Um ano a menos
Um ano a mais

Logo, não me julgues deslumbrada
Nem poeta, nem nada

Insisto e pesco poesia em rio seco
Mesmo sendo feita só de água


(07/07/2009)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Oh, Michael...
Mas quem é que não morre afinal?
No mundo há uma não-hora em que toda a gente é igual.

(25/06/2009)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Isso não tem graça e nem é um poema.

"Conhecereis a verdade! ..."

Por que os que acreditam são chamados, na melhor das hipóteses, de “revolucionários”?
E por que esses mesmos são chamados por outros de “prepotentes” ou “ingênuos”?

Sinto muitíssimo, mas o amor já é quase lenda e é uma pena anunciarem na TV que existe um homem honesto:

“GARI ENCONTRA CARTEIRA COM 10 MIL E DEVOLDE AO DONO”

Não é preciso ter fé para acreditar que a palavra integra. Não é preciso ter fé para ver que a linguagem segrega.
Ser alguém na vida significa ter ou ter vivido pra ver? Quem tem o que nós temos? E o que queremos? E o que vemos?!
O “Alguém na vida” é o pequenino; ele tem fome e quase não fala. Diariamente pulamos sua cabeça como quem pula obstáculos numa corrida sem vencedores. É “alguém”, pois não sabe o que é (mas todo mundo acha que sabe...).
Se meleca de rainha é igual a minha, como diria o psicanalista, o que será a melanina? A remela da menina ou o mapa da mina?
Mulher da vida é alguém na vida ou isso é só um problema parasintagmático?
Para conquistar um homem negro, você precisa ter charme, meu bem! E pra conquistar um homem branco, precisa só disso também.
Mas o que é que será isso a que chamam de charme, Meu Deus?!
Deve ser um perfume importado: caro, antipático e provavelmente não falamos a língua dele...

Eis a verdade: O mundo é injusto.
Até com os garis...

E eu?
Ainda prefiro ser um Zé ninguém.


(22/06/2009)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Vejo que não só minha bunda precisa de exercícios. Sou mole porque minha alma é sedentária.



(15/06/2009)

sábado, 13 de junho de 2009

Macarronada

Porque saco vazio não pára em pé, fiz aquela macarronada que você adora
Mas desta vez pus azeitonas, que você odeia, porque você não está aqui
É preciso comer para se trabalhar e pensar bem
E estou presa num livro de poemas tão ruim
Quanto esse macarrão com azeitonas estaria para você se estivesse aqui
O livro traz o de sempre: um coração que sangra e sofre de amor até a morte
Fala daqueles mesmos sintomas que só o amor pode causar
Quero dizer, nos poemas de amor, pelo menos, é quase sempre assim
Já eu que te amo (e não duvide disso), pensei comigo agora
Como é engraçado eu te amar tanto, mas sem essa dor terrível...

Deve ser porque como meu macarrão pensando na sua fome e não na minha.

(13/06/2009)

Sobre sorrir e dizer

Ele me perguntou se estava tudo bem
Disse que sim, que estava feliz com todos ali na minha casa
Por ele estar ali
Riu de mim, lavando a louça no escuro, e segurou meu ombro num meio abraço
Pôs a parte que se soltara do meu cabelo atrás da orelha
E eu sorri timidamente
Ele me beijou a maça do rosto, o canto do nariz e a boca
Tudo rápido, mas singelo
Ele riu novamente
Na verdade nós rimos, maravilhados, confidentes, um pro outro
E nos abraçamos como dois bons amigos que dizem, em silêncio, o quão ruim é se sentir sozinho


(13/06/2009)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Os opostos se distraem

Lis: Quando eu crescer quero ser igual a professora, beascho..
Thalita: Né, linda a blusa dela!
Lis: Não estou falando da blusa, estou falando da intelectualidade...
Thalita: Acredite, a blusa mostra bem a intelectualidade dela.
Lis: Ah , Thalita, não fala merda...


.......

Lis: Muito boa a aula...
Thalita: Já ouviu Elliott Smith?
Lis: A Beth é muito boa professora...
Thalita: Sabia que ele fez Ciências Políticas e Filosofia na Hampshire College?
Lis: Agora não sei se faço o seminário com você e falo sobre o Proust...
Thalita: e que ele morreu em 2003? Sempre fico triste quando ouço Say Yes...
Lis: Enfim, ou se eu faço sobre o Rimbaud...
Thalita: Às vezes acho que a namorada dele o matou ouvindo essa música, ou foi ele que se matou ouvindo say yes? ...
Thalita: Estou na dúvida...
Lis: Eu também...


*esses "diálogos" aconteceram em 2008.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Você ou Presente Imperfeito


Escrevia muitos poemas a você;
Todos cheios de mimo, transparência, rimas pobres...
Uns, poucos, eram endereçados, enquanto dormia,
Àquela sua linda casa dos meus sonhos:
Seu colo magro e taciturno.

Falava-lhe sempre em segunda pessoa –
No fundo, nada singular.
E era tudo como o amor;
Um frio tão grande e repentino
Que me abatia em tremor por qualquer coisa
De você.

Você, com sua eloquência sabidamente soberana,
Transmutava meu disciplinado canto em burro, temeroso.
E sua chegada, ao sol na segunda,
Congelava minhas estações alegres, roubava meus expedientes.

Tinha o meu mais calculado delírio.
Era o meu mais sincero sorriso.
E com cinismo, Vencedor,
Ganhava sem jogar sujo ou limpo comigo;
Ganhava com dados de presença.

Você sabia, eu era tão tola por amar tanto você,
Que até me achava engraçada por isso.
E embora eu visse, séria, responsável, tudo o que há no mundo,
Insistia, velada, loucura em tatear seu rosto oportuno
Pois queria nele ter notícias do meu Admirável Mundo Todo:
Ver, em carne, minha morte lenta e indolor,
Em espírito, meu Deus revelado,
Ou algo tão grandioso que eu não sabia bem o quê,

Talvez um milagre inverso...
Quem sabe?
Era tudo coisa daquela tão esperada luta já perdida.
Você sabe...

Luta vã, simultânea, à fé e faca.

Vã e permanente,
Luto
Pelos verbos, gestos imperfeitos que saem de você.
Nada seu é pedra em meu caminho... Não o tenho.
Bem ou mal, sigo você, seu rastro tão incerto.
E torta, imperfeita,
Sou eu, toda, eu e você,

Pertencida e múltipla.

Por isso, me vejo, em presente aberto, indicando

Quedas
Em versos novos, sim. Mas sempre seus.
Revelo cicatriz que é chaga imediata,
Decreto dor na lembrança vindoura,
Até que assim se eternize você, o
Tudo,
Num instante,

Ou no fim.

(Natal de 2008)