quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Eis aqui minhas muralhas;
Elas vibram à tua chegada.
Venha!
Minhas mãos anseiam ser pentes para teus cabelos!

Deleita-te em minhas águas frescas,
Beba-me e eternamente nutrirei teu corpo e espírito.

Como ter saudade do que é belo na pátria distante
Se só tua tez morena tem o cheiro e gosto da fortaleza em mim?
Meu berço és tu!

Assim como o sertanejo,
Endurecido pela cidade,
Geme com as cordas da viola,
Sou eu, que balança com o som da tua voz
E do meu peito, sertão cheio de veredas,
Fluem rios de vida,
Saltam os peixes,
Cantam as aves,
Em louvor ao amor!

Ah, se viesses e me tocasses com teus cílios...
Seria suficientemente magnífico!
Teus olhos me cobrem
E nos meus pés um terremoto lança meu mundo ao pó.
Os teus pés...
Lavo-os com unguentos sagrados,
Amarro mexas de cabelos meus em teus tornozelos;
Assim te seguiria,
E seguirias tu a mim.

Sonhas comigo,
E te cubro com as palavras da verdade universal
E com beijos que já são mais teus que tua própria alma!

Juro,
Não terás mais frio!
Faço do teu inverno triste a primavera
Aqueço-te com cobertores de flores raras
E te dou minhas carnes como travesseiro!

Oh, perdoem-me os leitores do acaso,
Que esses versos têm um dono
E dominam-me por inteira!
São moldados pela complacente mão da escrava,
Mas são posses do senhor do meu sono,
Dos meus dias clandestinos,
Do meu amor.


(Lisboa, 10/01/2008 )