sábado, 3 de janeiro de 2009

Você ou Presente Imperfeito


Escrevia muitos poemas a você;
Todos cheios de mimo, transparência, rimas pobres...
Uns, poucos, eram endereçados, enquanto dormia,
Àquela sua linda casa dos meus sonhos:
Seu colo magro e taciturno.

Falava-lhe sempre em segunda pessoa –
No fundo, nada singular.
E era tudo como o amor;
Um frio tão grande e repentino
Que me abatia em tremor por qualquer coisa
De você.

Você, com sua eloquência sabidamente soberana,
Transmutava meu disciplinado canto em burro, temeroso.
E sua chegada, ao sol na segunda,
Congelava minhas estações alegres, roubava meus expedientes.

Tinha o meu mais calculado delírio.
Era o meu mais sincero sorriso.
E com cinismo, Vencedor,
Ganhava sem jogar sujo ou limpo comigo;
Ganhava com dados de presença.

Você sabia, eu era tão tola por amar tanto você,
Que até me achava engraçada por isso.
E embora eu visse, séria, responsável, tudo o que há no mundo,
Insistia, velada, loucura em tatear seu rosto oportuno
Pois queria nele ter notícias do meu Admirável Mundo Todo:
Ver, em carne, minha morte lenta e indolor,
Em espírito, meu Deus revelado,
Ou algo tão grandioso que eu não sabia bem o quê,

Talvez um milagre inverso...
Quem sabe?
Era tudo coisa daquela tão esperada luta já perdida.
Você sabe...

Luta vã, simultânea, à fé e faca.

Vã e permanente,
Luto
Pelos verbos, gestos imperfeitos que saem de você.
Nada seu é pedra em meu caminho... Não o tenho.
Bem ou mal, sigo você, seu rastro tão incerto.
E torta, imperfeita,
Sou eu, toda, eu e você,

Pertencida e múltipla.

Por isso, me vejo, em presente aberto, indicando

Quedas
Em versos novos, sim. Mas sempre seus.
Revelo cicatriz que é chaga imediata,
Decreto dor na lembrança vindoura,
Até que assim se eternize você, o
Tudo,
Num instante,

Ou no fim.

(Natal de 2008)