quinta-feira, 22 de abril de 2010

SOBRE TUDO QUANTO SE LÊ

Livros, amigos, ou uma coisa qualquer.
Um bicho bonito, um gato a dormir
uma lagartixa que arregala os olhos do menino.
Tudo pode ser lido.
Tudo pode ser vivo com este louco DNA
das palavras e suas letrinhas miudinhas
ou GRANDONAS ASSIM que se organizam
de múltiplas, infinitas formas
de acordo com o que (se) quer incorporar.

O que mais leio, naturalmente, sou eu mesma.
Gosto também de ler aquele que tanto amo,
meu lobo manso
e é tão difícil,
e dá uma dor gostosinha esse árduo ofício
de cultivar um amor culto, letrado.
Ler em minha mãe
seus olhos cansados dos sessenta também é bom e
confortante na maior parte do tempo porque
afinal, tá tudo bem.
Ler os mortos pode parecer estranho
mas estranhamente é o que mais se lê
e eu também gosto e parece que
quanto mais frio ou esfarelado o corpo
mais quente e sólido seu vocabulário.

Bukowski, Whitman, Jorge Luis Borges
E.E. Cummings, Kundera, Conrado (o Segal)
Hilda Hilst, Machado (Isadora e de Assis)
Exupéry est super como as pessoas do Pessoa
Guimarães (linda rosa) e Cezário, não o verde, o Saiter.
O Gênesis, o Mateus, o Marcos, o Lucas, o João
e seu apocalipse.
Tanta coisa a se ler neste circo universal, caro Raimundo...
Tanta coisa, caro Manuel, minha bandeira nacional!
(licença, Leminski, pelo trocadilho...licença a este corpo jovem, Breno Dantas).

Tá, mas...quem é que está morto mesmo?

Vivas! todos vivem!
Até o diabo
até os Carlos com suas bebedeiras tristes e
seus rios rasos
Até Rimbaud vibra constante em sua estadia
no inferno

Vivas! todos vivem
em nossos olhos
se quisermos.

Ler abre portas para o eterno.


(21-04-2010)

terça-feira, 13 de abril de 2010

amor habitat

Para Rodolfo


Não se engane com o que vê, amor
entre os lençóis e as vassouras.
Cotidiana, fui domesticada, não nego
mas há vida em mim. Há vida!
Simples e vaga
mas acesa de sentidos:
Há o cheiro do pão, do feijão e do mar
(e quão delicados eles são...).
Há um ruído de bicho, de mato, que me sooa estranho
e um de rio, de cascata, que me sooa como um lindo sonho.
Há minha mãe, minha destra
e há ainda minha mão
sinistra, unida ao Selvagem.
Você; meu pássaro livre
policromático
que me conta, em altos vôos
a fantasia de cantos e cores reais
a realidade de cheiros e gostos fantásticos
e me ensina muitas outras coisas
sobre a arte da espontaneidade.
Oh, meu pássaro-amor...
Tá na mesa
Vem comer, vem?
Celebremos a maravilha deste vôo juntos
Mas celebremos também o chão, a gravidade
Pois são eles que nos fazem sentir tão agraciados em poder voar.

(13-04-2010)